quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Um faroleiro barra pesada.

 Desconcertante e inegável, só para dizer o mínimo do recorte da natureza humana que João Ubaldo traça neste seu Diário do farol




Órfão relegado ao desprezo afetivo do pai forma-se na mente do narrador um plano de vingança, não só contra o pai, responsável pela morte de sua mãe, mas, também contra a humanidade em geral. Na medida em que ele cresce e brilhantemente elabora planos e crimes infalíveis para alcançar seus objetivos, deixa bem claro seu desprezo pelo leitor: a ele pouco importam os julgamentos. Assumindo uma postura aparentemente passiva, torna-se padre  pela vontade paterna, no seminário cria redes e tramas das quais é único "inocente" , somente cultiva relações que venham a servir aos seus propósitos e, no fim da vida, tendo alcançado seu objetivo final, recolha-se ao seu farol. Seu relato, na verdade nada mais é do que um registro feito por ele, para seu próprio deleite, egoísmo, maldade e crueldade, características que faz questão de atribuir  ao seres humanos indiscriminadamente: podemos  fugir,  mentir, ignorá-las, ou escondê-las, mas elas fazem parte de nós e nada pode-se fazer contra isso. O leitor, ao longo da narrativa é chamado a reagir aos insultos a ele dirigidos, é inúmeras vezes exortado a abandonar a leitura mas, brilhante na construção desse romance, o que João Ubaldo consegue é dar-nos mais ânsia de chegar ao final de mais essa brilhante obra.

Cármen Machado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário